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Capítulo 7: Capítulo 7

Página 66

O ponto essencial que desejo ressaltar é que por todo aquele tempo eu estivera isolado - pois na frente ficava-se quase completamente isolado do mundo externo, e até mesmo do que ocorria em Barcelona não se tinha mais do que uma vaga conceção - entre pessoas que, de um modo aproximado, mas não muito imprecisamente, podiam ser descritas como revolucionários. Isso era resultado do sistema de milícia, que na frente de Aragón não foi modificado radicalmente senão por volta de junho de 1937. As milícias de trabalhadores, baseadas nos sindicatos profissionais e cada qual composta de gente com mais ou menos a mesma opinião política, tiveram o efeito de canalizar para um só lugar todo o sentimento mais revolucionário do país. Eu caíra, mais ou menos por sorte, na única coletividade de dimensões maiores, na Europa Ocidental, onde a consciência política e a descrença no capitalismo eram coisa mais normal do que seus contrários. Ali, em Aragón, estava-se em meio a dezenas de milhares de pessoas que em sua maioria, embora não totalidade, originavam-se da classe trabalhadora, viviam todas no mesmo nível e se davam em pé de igualdade. Em teoria, era a igualdade perfeita, e mesmo na prática não andavam longe disso. Há um sentido no qual seria veraz afirmar que estávamos experimentando uma amostra do socialismo, e com isso quero dizer que a atmosfera mental predominante era a do socialismo. Muitas das motivações normais da vida civilizada - esnobismo, ganância pelo dinheiro, medo ao patrão, etc. - deixaram simplesmente de existir. A divisão comum das classes na sociedade desaparecera em tal medida que se mostra quase inimaginável na atmosfera contaminada pelo dinheiro e que se respira na Inglaterra; não havia mais gente alguma ali, com exceção dos camponeses e nós próprios, e ninguém possuía outrem e era seu senhor e amo. Está claro que tal estado de coisas não podia perdurar. Era apenas uma fase temporária e local, num jogo imenso que está sendo disputado por toda a superfície da terra. Mas durou o bastante para causar seus efeitos sobre qualquer um que a tenha experimentado. Por mais que praguejássemos na ocasião, compreendíamos depois que estivemos em contato com alguma coisa estranha e valiosa. Estivera-se numa coletividade onde a esperança era coisa mais normal do que a apatia ou cinismo, onde a palavra "camarada" significava camaradagem e não, como ocorre na maioria dos países, mera conversa fiada. Respiramos o ar da igualdade. Tenho plena ciência de que estamos agora na moda de negar que o socialismo tenha qualquer coisa a ver com a igualdade.

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Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 66

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173