Em traço característico da Espanha, não existia um só catálogo telefônico em todo o edifício, e eu ignorava qual fosse o número do Hotel Continental, onde ela se achava hospedada. Somente depois de vasculhar um quarto após o outro, levando nisso perto de uma hora, é que encontrei um guia onde estava o número procurado. Não consegui falar com minha mulher, mas comuniquei-me com John McNair, o representante da I.L.P. em Barcelona. Ele disse que tudo ia bem por lá, que ninguém fora ferido, e perguntava a meu respeito no Comitê Local. Informei que tudo estaria muito bem se tivéssemos mais cigarros. Disse isso de brincadeira, mas meia hora depois aparecia McNair, com dois maços de Lucky Strike. Ele enfrentara as ruas imersas na treva e percorridas pelas patrulhas anarquistas, que duas vezes o haviam detido com pistola ao peito e examinado seus documentos. Não me esquecerei desse pequeno gesto heroico. Ficamos muito satisfeitos com os cigarros.
Colocaram guardas armados em quase todas as janelas do Hotel Falcón, e lá em baixo, na rua, um grupo pequeno de Guardas de Assalto detinha e interrogava os poucos transeuntes. Passou um carro anarquista de patrulha, lotado de gente armada, e ao lado do motorista ia uma bela moça de seus dezoito anos, cabelos negros, acariciando uma submetralhadora ao colo. Passei bastante tempo a andar pelas instalações do edifício, um conjunto bem grande cuja geografia era impossível aprender. Encontrei tudo naquele estado comum de sujeira e lixo, móveis quebrados e papel rasgado, que pareciam os produtos inevitáveis da revolução. Por todas as peças havia gente dormindo, e num sofá quebrado, que achei no corredor, duas mulheres pobres da região do cais roncavam tranquilamente. O lugar fora um cabaré-teatro antes de ser tomado pelo P.O.U.M., e havia palcos erguidos em diversas peças. Sobre um deles havia um piano de cauda abandonado. Descobri finalmente o que buscava – o arsenal. Não sabia como aquilo tudo ia terminar, e queria muito estar armado. Já ouvira dizer tantas vezes que todos os partidos rivais, P.S.U.C., P.O.U.M. e C.N.T. - F. A. I., tinham armas escondidas em Barcelona, que não podia crer na existência de apenas cinquenta ou sessenta fuzis em dois dos principais edifícios do P.O.U.M. O quarto que servia de arsenal estava sem guarda, e sua porta era frágil. Um outro inglês e eu não encontramos qualquer dificuldade em abri-la