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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 88

Kopp levou-me para cima e explicou mais uma vez a situação. Precisávamos defender os edifícios do P.O.U.M. caso fossem atacados, mas os dirigentes do P.O.U.M. mandaram instruções para que ficássemos na defensiva e não abrir fogo se o pudéssemos evitar. Logo à nossa frente havia um cinema, chamado Poliorama, tendo um museu na parte superior e, lá em cima, bem mais alto que o nível geral dos telhados, encontrava-se um pequeno observatório com cúpulas gêmeas. Essas cúpulas dominavam a rua, e alguns homens colocados ali, com fuzis, podiam impedir qualquer ataque aos edifícios do P.O.U.M. Os zeladores do cinema eram membros da C.N.T. e nos deixariam ir e vir. Quanto aos Guardas Civis no Café Moka, não haveria problemas com eles, pois não queriam lutar e teriam toda a satisfação em viver e deixar viver. Kopp repetiu que as ordens eram de não disparar, senão quando abrissem fogo contra nós ou atacassem nossos edifícios. Tive a impressão de que, embora ele não o dissesse, os dirigentes do P.O.U.M. estavam furiosos por serem arrastados àquela questão, mas achavam que deviam ficar ao lado da C.N.T.

Já haviam colocado guardas no observatório, e passei os três dias e noites seguidos no telhado do Poliorama, a não ser por intervalos curtos quando eu escapulia até ao hotel para comer. Eu não estava em perigo, não sofria com qualquer coisa pior do que fome e tédio, mas ainda assim acredito que aquele tenha sido um dos períodos mais intoleráveis em toda minha vida. Poucas coisas, a meu ver, podiam ser mais desgostantes, desapontadoras ou, finalmente, daninhas para os nervos do que aqueles dias horríveis de guerra nas ruas.

Eu costumava ficar sentado no telhado, pensando na loucura de tudo aquilo. Das janelinhas no observatório podíamos ver quilômetros ao redor, com vistas e mais vistas de edifícios altos e esguios, cúpulas de vidro e telhados ondulados e fantásticos, com telhas verde-brilhantes e de cobre; na direção do leste, o mar azul-pálido e brilhante, a primeira visão do mar que eu tivera desde que chegara à Espanha. E toda aquela imensa cidade com um milhão de habitantes encontrava-se trancada numa espécie de inércia violenta, um pesadelo de ruído sem movimento. As ruas ensolaradas estavam desertas, e nada acontecia, a não ser a chuva de balas vindas das barricadas e janelas defendidas com sacos de areia. Nenhum veículo se movia nas ruas, e neste ou naquele ponto da Ramblas os bondes elétricos continuavam estacionados onde seus condutores os haviam abandonado, ao início da luta. E durante todo esse tempo aquele ruído diabólico, ecoando de milhares de edificações de pedra, prosseguia sem cessar, como um temporal tropical. As vezes ele se reduzia a alguns tiros, de outras acelerava-se e chegava a uma fuzilaria ensurdecedora, mas jamais parava enquanto houvesse luz do dia, e na aurora seguinte recomeçava com absoluta pontualidade.

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Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 88

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173