Que diabo estava acontecendo, quem lutava contra quem, e qual lado vencia, eis indagações que inicialmente foram bem difíceis de responder. A população de Barcelona está tão acostumada à luta de ruas, e conhece tão bem a geografia local, que graças a um tipo de instinto sabia qual partido político sustentará quais ruas e edifícios. O estrangeiro, num meio assim, encontra-se com tremenda desvantagem. Olhando pelo observatório, podia perceber que a Ramblas, uma das ruas principais da cidade, formava uma linha divisória. A sua direita as residências da classe trabalhadora eram solidamente anarquistas; à esquerda, tinha lugar uma luta confusa nas ruas secundárias e tortuosas, mas naquele lado o P.S.U.C. e os Guardas Civis estavam mais ou menos com o controle da situação. Até nossa extremidade da Ramblas, por volta da Plaza de Cataluña, as posições eram tão complicadas que seriam ininteligíveis, não fosse o fato de que cada edifício ostentava a bandeira de seu partido. O marco principal ali era o Hotel Colón, quartel-general do P.S.U.C. e dominando a Plaza de Cataluña. Numa janela próxima ao penúltimo "o" no enorme letreiro "Hotel Colón" que se estendia pela fachada achava-se instalada uma metralhadora que podia varrer aquela praça com precisão mortífera. A cem metros para a nossa direita, descendo a Ramblas, a J .S. U., liga jovem do P .S. U . C. (correspondendo à Liga dos Jovens Comunistas na Inglaterra) mantinha em seu poder uma grande loja, cujas janelas guarnecidas por sacos de areia faziam frente a nosso observatório Baixaram sua bandeira vermelha e içaram a bandeira nacional da Catalunha. No Centro Telefônico, ponto de partida de todo o barulho, a bandeira nacional-catalã e a anarquista flutuavam lado a lado. Algum tipo de acordo provisório fora alcançado naquele edifício, o Centro funcionava ininterruptamente, e não faziam fogo.
Em nossa posição reinava estranha paz. Os Guardas Civis no Café Moka baixaram as portas de aço e empilharam os móveis para formar uma barricada. Mais tarde meia dúzia deles surgia no telhado, em frente a nós, construindo outra barricada de colchões, sobre a qual penduraram a bandeira nacional catalã. Era patente, no entanto, que não tinham o menor desejo de iniciar uma luta. Kopp firmara acordo definido com eles, mediante o qual não abriríamos fogo, se não disparassem contra nós. O homem, a essa altura, ficara bastante amigo dos Guardas Civis, e já os visitara diversas vezes no Café Moka. Como era natural, eles saquearam tudo quanto se podia beber naquele lugar, e presentearam Kopp com quinze garrafas de cerveja. Em troca, Kopp lhes dera um de nossos fuzis, para compensar outro que perderam na véspera. Ainda assim, era estranha a sensação de estar sentado naquele telhado.