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Capítulo 1: Capítulo 1

Página 9
A generosidade de uni espanhol, no sentido comum da palavra, mostra-se às vezes quase embaraçosa. Quando se lhe pede um cigarro, ele quer que aceitemos todo o maço, e além disso existe a generosidade num sentido mais profundo, uma verdadeira largueza de espírito que encontrei muitas vezes nas circunstâncias as mais desesperançadas. Alguns dos jornalistas e outros estrangeiros que viajaram pela Espanha durante a guerra declararam que, entre si e em segredo, os espanhóis se mostravam amargamente ressentidos com o auxilio recebido do exterior. Tudo quanto posso dizer é que jamais observei qualquer demonstração desse tipo. Recordo-me bem que alguns dias antes de deixar o quartel, chegaram da linha de frente, em licença, diversos combatentes, e falavam animadamente de suas experiências, mostrando-se cheios de entusiasmo por soldados franceses que estiveram a seu lado em Huesca. Os franceses eram muito valentes, diziam eles, e acrescentavam automaticamente: "Más valientes que nosotros". Está claro que exprimi dúvida, pelo que eles explicaram que os franceses conheciam melhor a arte da guerra, eram mais hábeis com as bombas, metralhadoras e assim por diante. Com tudo isso, seu comentário era significativo. Um inglês preferiria cortar a própria mão a dizer uma coisa dessas.

Todos os estrangeiros que serviam na milícia passaram suas primeiras semanas aprendendo a amar os espanhóis e a ficar exasperados por algumas de suas características. Na linha de frente a minha própria impaciência atingia as raias da fúria, em determinadas ocasiões. Os espanhóis são bons em muitas coisas, mas não na guerra. Todos os estrangeiros ficam atônitos diante de sua ineficiência, e acima de tudo por sua impontualidade enlouquecedora. A palavra espanhola que nenhum estrangeiro consegue deixar de aprender é mañana - "amanhã" (em sentido literal, "o amanhecer"). Sempre que humanamente possível, os assuntos de hoje são transferidos para mañana. Isso é tão conhecido que os próprios espanhóis fazem piadas a respeito. Na Espanha não há coisa alguma, desde uma refeição até uma batalha, que tenha lugar à hora marcada. Via de regra as coisas acontecem tarde demais, mas somente de vez em quando - de modo que não se possa contar sequer com esse retardamento - acontecem cedo demais. Um trem que está de partida marcada para as oito horas sairá, em condições normais, em qualquer hora entre nove e dez, mas talvez uma vez por semana, graças à veneta pessoal do maquinista, ele saia às sete e meia.

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Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 9

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173