A multidão observava-os com curiosidade:
Tudo aquilo se estava a tornar muito misterioso. Parecia tratar-se de uma conjura. Quando Thornton se pôs de pé, Buck abocanhou a mão enluvada, premindo-a com os dentes e soltando-a vagarosamente, quase com relutância. Era a sua resposta, expressa em termos não de conversa, mas de amor. Thornton afastou-se para trás.
— Agora, Buck! — disse ele.
Buck esticou os tirantes, depois folgou-os uns tantos centímetros. Fora assim que aprendera.
— Vamos! — vibrou a voz de Thornton, cortando o silêncio tenso.
Buck inclinou-se para a direita, arrematando o movimento com um impulso que acabou com a folga e, depois, com um sacão súbito, suspendeu os seus setenta quilos. A carga estremeceu e debaixo dos patins fizeram-se ouvir uns estalidos secos.
— Vá — comandou Thornton.
Buck repetiu a manobra, desta vez para a esquerda. O estalido ganhou sonoridade, o trenó foi sacudido e os patins escorregaram e resvalaram alguns centímetros para o lado.
O trenó estava liberto. Os homens sustinham a respiração, sem disso se aperceberem.
— Prá frente, agora!
A ordem de Thornton estalou como um tiro de pistola. Buck atirou-se para a frente, esticando os tirantes com uma investida poderosa. Todo o seu corpo se contraía num esforço tremendo; os músculos distendendo-se e enovelando-se como coisas vivas sob o pêlo sedoso. O peito amplo rasava o chão, com a cabeça baixa e esticada para a frente, enquanto as paras voavam como loucas, as garras escalavrando na neve batida e firme sulcos paralelos.