Ela passou-lhe a mão tilintante pelos cabelos, chamando-lhe patife.
- Dá-me um beijo - disse ela.
Os lábios dele não queriam beijá-la. Queria ser abraçado com firmeza, acariciado lentamente, lentamente, lentamente. Nos braços dela, sentia que se tornara subitamente forte e audaz e seguro de si. Mas os seus lábios não condescendiam a beijá-la.
Com um movimento súbito, ela curvou-lhe a cabeça e uniu os seus lábios aos dele, e ele sentiu o significado dos movimentos dela nos seus olhos francos, voltados para os dele. Era de mais para ele. Fechou os olhos, abandonando-se a ela, de corpo e alma, sem consciência de outra coisa que não fosse a pressão tenebrosa dos seus lábios que se entreabriam suavemente. A sua pressão exercia-se tanto sobre o seu cérebro como sobre os seus lábios, como se fossem o veículo de um vago discurso; e, entre eles, sentiu uma pressão desconhecida e tímida, mais tenebrosa que o enlanguescimento do pecado, mais suave do que um som ou um perfume.