Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 3: III Pág. 125 / 273

Imaginai tudo isto, e podereis fazer uma ideia de como é horrível o fedor do Inferno.

«Mas esse fedor não é, por muito horrível que seja, o maior tormento físico a que os condenados se encontram sujeitos. O tormento do fogo é o maior tormento a que os tiranos sempre submeteram os seus semelhantes. Pousai um dedo, por um momento, na chama de uma vela, e sentireis a dor duma queimadura. Mas o nosso fogo terreno foi criado por Deus para benefício do homem, para nele conservar a centelha da vida e o ajudar nos ofícios úteis, ao passo que o fogo do Inferno é de outra qualidade e foi criado por Deus para torturar e punir o pecador impenitente. Além disso, o nosso fogo terreno consome mais ou menos rapidamente, consoante o objecto que ataca for mais ou menos combustível, pelo que o engenho humano sempre conseguiu inventar preparados químicos para controlar ou frustrar a sua acção. Mas o enxofre sulfuroso que arde no Inferno é uma substância especialmente criada para arder eternamente com indescritível furor. Além disso, o nosso fogo terreno destrói, ao mesmo tempo que queima, pelo que, quanto mais intenso for, menor é a sua duração; mas o fogo do Inferno tem a propriedade de conservar aquilo que queima e, embora lavre com incrível intensidade, jamais se apaga.

«O nosso fogo terreno, além disso, por muito voraz e extenso que seja, tem sempre uma extensão limitada; mas o lago de fogo do Inferno é ilimitado, sem margens e sem fundo. Consta que o próprio Demónio, quando um certo soldado lhe fez essa pergunta, foi obrigado a confessar que, se uma montanha inteira fosse lançada no oceano ardente do Inferno, se derreteria num instante, como um pedaço de cera. E esse fogo terrível não afligirá os corpos dos condenados apenas exteriormente; cada alma perdida será um Inferno dentro de si mesma, com as chamas infinitas a arder nas suas vísceras.





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