Implorais agora um momento de vida terrena para vos arrependerdes: em vão. Esse tempo passou; foi-se, para sempre.
«Assim é a tripla ferroada da consciência, da víbora que rói o mais íntimo do coração dos desgraçados do Inferno, de modo que, cheios de uma fúria demoníaca, amaldiçoam-se pela sua loucura e amaldiçoam as más companhias que os levaram a tal desgraça, e amaldiçoam os demónios que os tentaram durante a vida e agora deles escarnecem por toda a eternidade, e até chegam a insultar e a amaldiçoar o Ente Supremo, de cuja bondade e paciência troçaram e escarneceram, mas a cuja justiça e poder não podem escapar.
«A pena espiritual a que os condenados se encontram sujeitos, em seguida, é a pena da extensão. O homem, na sua vida terrena, embora possa suportar muitos males, não pode suportar todos ao mesmo tempo, na medida em que um mal corrige e compensa outro, tal como um veneno frequentemente anula outro. No Inferno, pelo contrário, um tormento, em vez de anular um outro, empresta-lhe ainda maior força; e, além disso, como as faculdades interiores são mais perfeitas que as exteriores, eles são mais susceptíveis de sofrer. Tal como cada sentido é afligido por um tormento adequado, o mesmo sucede com cada faculdade espiritual; a imaginação com imagens horríveis, a sensibilidade com a saudade e a raiva alternadas, a mente e a inteligência com uma treva interior mais terrível ainda do que as trevas exteriores que reinam naquela terrível prisão. A maldade, embora impotente, que possui aquelas almas demoníacas é uma maldade de extensão ilimitada, de duração ilimitada, um terrível estado de perversidade que dificilmente poderemos imaginar, a menos que tenhamos consciência da monstruosidade do pecado e do ódio que Deus nutre por ele.