Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 3: III Pág. 143 / 273

Deteve-se no patamar, diante da porta, e depois, agarrando na maçaneta de porcelana, abriu rapidamente a porta. Aguardou, angustiado, com a alma anelante, rezando silenciosamente para que a morte não tocasse a sua fronte ao passar pelo umbral, para que os demónios que habitam na escuridão não tivessem poder sobre ele. Ficou à espera, parado na soleira da porta, como à entrada de uma caverna tenebrosa. Havia ali rostos; olhos que o aguardavam e o observavam.

- Sabíamos perfeitamente, por certo, que, embora ele tivesse de alcançar a luz, sentiria considerável dificuldade em se esforçar por tentar convencer-se a tentar esforçar-se por adquirir o plenipotenciário espiritual, e por isso, sabíamos, naturalmente, perfeitamente bem...

Os rostos murmurantes esperavam e vigiavam-no; as vozes múrmures enchiam o bojo escuro da caverna. Ele sentia um intenso receio espiritual e físico, mas, erguendo corajosamente a cabeça, entrou no quarto com passo firme. Uma porta, um quarto, o mesmo quarto, a mesma janela. Disse a si próprio, calmamente, que não faziam qualquer sentido as palavras que pareciam murmurar no escuro. Disse a si próprio que aquele era simplesmente o seu quarto, com a porta aberta.

Fechou a porta e, dirigindo-se rapidamente à cama, ajoelhou junto dela e cobriu o rosto com as mãos. Tinha as mãos geladas e os membros doíam-lhe, de frio. A inquietação física, o frio e a fadiga envolviam-no, desorientando-lhe os pensamentos. Porque estava ali ajoelhado, como uma criança a dizer as suas orações da noite? Para estar sozinho com a sua alma, para examinar a sua consciência, para enfrentar os seus pecados, para recordar o momento, a forma e as circunstâncias de cada um, para chorar por eles.

Não conseguia chorar.





Os capítulos deste livro