Ar! O ar do céu! Correu, cambaleante, para a janela, gemendo e quase desfalecendo de náusea. Junto do lavatório, foi assaltado por uma convulsão interior; e, apertando desvairadamente a fronte gelada, vomitou profusamente, na maior agonia.
Terminada a crise, caminhou, quase sem forças, até à janela e, erguendo a vidraça, sentou-se a um canto do vão da janela e apoiou o cotovelo no peitoril. Tinha cessado de chover; e, entre os vapores que se deslocavam entre cada ponto de luz, a cidade tecia em seu redor um suave casulo de névoa amarelada. O céu estava tranquilo e vagamente luminoso e o ar era tão agradável de respirar como o de um bosque humedecido pelos aguaceiros; e, no meio da paz e das luzes cintilantes e da sua fragrância, ele fez um pacto com o seu coração.
Rezou:
- «Ele tinha tido a intenção de descer à terra envolto na glória celestial, mas nós pecámos; e então Ele não poderia visitar-nos em segurança senão ocultando a Sua majestade e ofuscando a Sua radiação, porque era Deus. Por isso, Ele veio em humildade, não em poder, e enviou-Vos, a Vós, uma criatura da Sua confiança, com um decoro e um brilho apropriados à nossa situação. E agora, a Vossa própria face e a vossa forma, querida mãe, nos falam do Eterno; não como a beleza terrena, que é perigoso contemplar, mas como a estrela da manhã que é o Vosso símbolo, brilhante e musical, respirando pureza, falando do Céu e infundindo a paz. Ó precursora do dia! Ó luz dos peregrinos! Continuai a guiar-nos, como sempre, no meio da noite escura, através dos desertos ermos, guiai-nos para Nosso Senhor Jesus Cristo, guiai-nos para o nosso destino.»
Tinha os olhos cheios de lágrimas e, olhando humildemente para o céu, chorou pela inocência perdida.
Quando a noite caiu, saiu de casa, e o primeiro contacto com o ar húmido e escuro, e o ruído da porta que se fechava atrás de si fizeram-lhe doer a consciência, acalmada pela oração e pelas lágrimas.
