As ruas enlameadas eram alegres. Dirigiu-se para casa, consciente de uma graça invisível que o invadia e tornava leves os seus membros. Apesar de tudo o que fizera. Tinha-se confessado e Deus tinha-lhe perdoado. A sua alma voltara a ser bela e pura, santa e feliz.
Seria belo morrer, se Deus o desejasse. Era belo viver em graça uma vida de paz e de virtude e de tolerância para com os outros.
Sentou-se junto da lareira, na cozinha, tão feliz que nem ousava falar. Até àquela altura, nunca soubera como a vida podia ser bela e tranquila. O quadrado de papel verde colocado em volta da lâmpada projectava uma sombra suave. Sobre o aparador havia um prato de salsichas e pudim branco e sobre a prateleira havia ovos. Seriam para o pequeno-almoço da manhã, depois da comunhão na capela do colégio. Pudim branco, ovos, salsichas e chávenas de chá. Como a vida era simples e bela, afinal! E a vida abria-se diante dele.
Adormeceu num sonho. E num sonho acordou e verificou que era de manhã. Sonhando acordado, dirigiu-se ao colégio, pela manhã tranquila.
Os seus colegas estavam todos lá, ajoelhados nos seus lugares.
Ajoelhou-se entre eles, feliz e reservado. O altar estava enfeitado com massas fragrantes de flores brancas; e, à luz da manhã, as pálidas chamas das velas entre as flores brancas eram tão límpidas e silenciosas como a sua alma.
Ajoelhou-se diante do altar, com os colegas, erguendo com eles a toalha do altar, sobre uma balaustrada viva de mãos. As suas mãos tremiam e a sua alma tremia, ao ouvir o padre passar com o cibório, de um comungante para outro.
- Corpus Domini nostri.
Seria possível? Estava ali ajoelhado, limpo de pecados e humilde; e a hóstia pousaria na sua língua e Deus entraria no seu corpo purificado.