Sentia por cima de si a cúpula ampla e indiferente e os calmos movimentos dos corpos celestes; e a terra por baixo dele, a terra de que tinha nascido, acolhera-o no seu seio.
Fechou os olhos no langor do sono. As suas pálpebras estremeceram, como se sentissem o vasto movimento cíclico da terra e dos seus guardiões, estremeceram como se sentissem a luz estranha de um mundo novo.
A sua alma penetrava num mundo novo, fantástico, confuso, indistinto como um mundo submarino, atravessado por formas e seres nebulosos. Um mundo, um clarão ou uma flor? Bruxeleando e tremulando, tremulando e desdobrando-se, uma luz que irrompia, uma flor que nascia, estendia-se numa infindável sucessão de si própria, irrompendo, totalmente rubra, e desdobrando-se e desmaiando até ao mais pálido tom rosado, pétala a pétala, onda de luz a onda de luz, inundando os céus com os seus clarões suaves, cada um mais profundo que o anterior.
A noite caíra quando acordou e a areia e as ervas áridas do seu leito já não brilhavam.
Ergueu-se lentamente e, recordando o êxtase do seu sonho, suspirou de alegria.
Subiu à crista da duna e olhou em volta. A noite descera. A orla da lua nova fendia a vastidão pálida do céu, o rebordo de um arco de prata incrustado em areia cinzenta; e a maré avançava rapidamente sobre a terra, com um sussurro baixo das suas ondas, isolando algumas silhuetas atrasadas em poças de água distantes.