- Vá lá, cavalheiro! Ajude esta pobre rapariga, meu senhor!
- Não tenho dinheiro - disse Stephen.
- Compre estas lindas flores, compra, meu senhor? Custam só um péni.
- Não ouviu o que eu disse? - perguntou Stephen, inclinando-se para ela. - Eu disse que não tinha dinheiro. E volto a dizer-lho.
- Bom, está certo, um dia há-de tê-lo, se Deus quiser - respondeu imediatamente a rapariga.
- É possível - disse Stephen -, mas não acho muito provável.
Afastou-se rapidamente, receando que a familiaridade dela se tornasse atrevida e desejando estar longe antes que ela oferecesse a sua mercadoria a outrem, a um turista inglês ou a um estudante do Trinity. A Rua Grafton, que ele percorria, prolongou essa sensação de pobreza desanimadora. Na estrada, ao fundo da rua, havia uma lápide em memória de Wolfe Tone, e ele recordava-se de ter estado presente à sua inauguração, em companhia do pai. Recordava com amargura essa cena de aparatosa homenagem. Havia quatro delegados franceses num breque e um deles, um jovem gorducho e sorridente, ostentava, preso numa bengala, um cartaz com as palavras VIVE L'IRLANDE!
Mas as árvores de relvado da universidade rescendiam a chuva e a terra molhada libertava o seu odor mortal, um suave incenso que ascendia, através do húmus, de muitos corações. A alma da cidade galante e venal de que os seus antepassados lhe haviam falado, tinha-se reduzido, com o tempo, a um suave odor mortal que se erguia da terra, e ele sabia que, quando entrasse no colégio sombrio, se daria conta de uma corrupção bem diferente das de Buck Egan e de Burnchapel Whaley.
Era tarde demais para ir assistir à aula de francês. Atravessou o vestíbulo e tomou o corredor da esquerda que levava ao anfiteatro de física.
