Até mesmo a lendária astúcia da companhia, uma astúcia mais subtil e mais secreta que os seus fabulosos livros de secreta e subtil sabedoria, não acendera na sua alma a energia do apostolado. Parecia que usava os recursos, o saber e as astúcias do mundo, conforme lhe era solicitado, para maior glória de Deus, sem alegria na sua utilização nem ódio pelo que neles havia de mau, mas fazendo-os voltar-se sobre si mesmos, com um gesto firme de obediência, e, apesar de toda esta silenciosa dedicação, parecia não sentir o mínimo amor pelo mestre e pouco pelos fins que servia, se é que sentia algum.
Similiter atque senis baculus era ele, como teria dito o fundador, como um bordão na mão de um velho, servindo-lhe para se apoiar no caminho, ao anoitecer, ou no meio da tempestade, pousado num banco de jardim ao lado do ramalhete de flores de uma senhora, ou erguido em sinal de ameaça.
O deão voltou para junto da chaminé e começou a afagar o queixo.
- Quando poderemos esperar qualquer coisa sua, em matéria estética? - perguntou.
- Minha! - exclamou Stephen com espanto. - Tenho uma ideia de quinze em quinze dias, quando estou com sorte.
- Essas questões são muito profundas, Mr. Dedalus - disse o deão. - É como olhar para as profundezas do alto dos penhascos de Moher. Muitos mergulham no abismo e nunca regressam. Apenas um mergulhador experiente pode descer a essas profundezas, explorá-las e regressar à superfície.
- Se se refere à especulação, senhor - disse Stephen -, tenho a certeza de que não existe o livre pensamento, na medida em que todo o pensamento tem de submeter-se às suas próprias leis. -Ah!
- Para os meus propósitos, trabalho actualmente à luz de uma ou duas ideias de Aristóteles e Aquino.
- Estou a ver.