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Capítulo 5: V

Página 202
O uso da palavra, num sentido comum, é muito diferente. Espero não estar a retê-lo.

- De forma alguma - disse, delicadamente, o deão.

- Não, não - disse Stephen, sorrindo. - Eu queria dizer...

- Sim, sim, compreendo - apressou-se o deão a dizer-, compreendi o seu ponto de vista: reter.

Projectou para diante o maxilar inferior e tossiu, de forma breve e seca.

- Voltando ao seu candeeiro - disse ele -, alimentá-lo também constitui um problema interessante. É preciso escolher um petróleo puro e ter cuidado ao despejá-lo, para não encher de mais, não introduzindo mais do que o funil pode conter.

- Qual funil? - perguntou Stephen.

- O funil com a ajuda do qual mete o petróleo no candeeiro.

- Ah, isso? - disse Stephen. - Chama-se-lhe funil? Não é um infundíbulo?

- O que é um infundíbulo?

- Isso. O... funil.

- Chama-se-lhe infundíbulo na Irlanda? - inquiriu o deão.

- Nunca tinha ouvido essa palavra na minha vida.

- Chamam-lhe infundíbulo em Lower Drumcondra - disse Stephen, rindo -, onde se fala o melhor inglês.

- Um infundíbulo - disse o deão, pensativamente. - É uma palavra muito interessante. Tenho de a procurar no dicionário. Palavra que hei-de procurá-la.

A sua cortesia soava um pouco a falso e Stephen olhou para o convertido inglês com o mesmo olhar que o irmão mais velho da parábola deve ter lançado ao filho pródigo. Um humilde seguidor da esteira de conversões clamorosas, um pobre inglês na Irlanda, parecia ter entrado no palco da história dos jesuítas quando aquele estranho drama de intriga, sofrimento, inveja, luta e indignidade já tinha terminado - um espectador tardio, um espírito moroso. De onde teria partido? Talvez tivesse nascido e sido criado entre sérios dissidentes, vendo a salvação apenas em Jesus e detestando as pompas vãs da Igreja convencional.

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Capa do livro Retrato do Artista Quando Jovem
Páginas: 273
Página atual: 202

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 57
III 103
IV 156
V 186