Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 5: V Pág. 203 / 273

Teria sentido a necessidade de uma fé implícita entre a agitação do sectarismo e a linguagem bizarra dos seus cismas turbulentos, homens de seis princípios, homens peculiares, baptistas de semente e de serpente, dogmatistas supralapsários? Teria encontrado a verdadeira Igreja subitamente, dobando até ao final, como um novelo de algodão, uma fina linha de raciocínio após inspiração pela imposição das mãos ou na procissão do Espírito Santo? Ou Nosso Senhor tê-lo-ia tocado e ter-lhe-ia pedido que o seguisse, como aquele discípulo que trabalhava numa repartição de impostos, quando estava sentado à porta de uma capela de telhado de zinco, bocejando e contando o seu dízimo?

O deão repetiu a palavra.

- Infundíbulo! Ora essa, que interessante!

- A pergunta que me fez há pouco parece-me mais interessante. O que é a beleza que o artista se esforça por exprimir a partir de torrões de terra - disse Stephen, friamente.

Aquela pequena palavra parecia ter voltado a ponta de espada da sua sensibilidade contra aquele adversário cortês e vigilante. Sentiu, com viva tristeza, que o homem com quem estava a conversar era um conterrâneo de Ben Johnson. Pensou: «A língua em que estamos a falar é dele antes de ser minha. Como soam diferentes as palavras lar, Cristo, cerveja, senhor, nos lábios dele e nos meus! Eu não posso dizer ou escrever essas palavras sem inquietação do espírito. A linguagem dele, tão bem conhecida e tão estranha, será sempre, para mim, uma linguagem adquirida. Eu não criei nem aceitei as suas palavras. A minha voz recusa-se a pronunciá-las. A minha alma agita-se à sombra da sua linguagem».

- E distinguir entre o belo e o sublime - acrescentou o deão -, distinguir entre a beleza moral e a beleza material.





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