A entrada do professor foi assinalada por algumas pateadas à maneira de Kent, com as pesadas botas dos estudantes sentados na mais alta fila do sombrio anfiteatro, por baixo das janelas cinzentas cobertas de teias de aranha. A chamada principiou e as respostas soaram em todos os tons até se chegar ao nome de Peter Byrne.
-Presente!
Uma nota de baixo profundo proveio da fila superior, seguida de tosses de protesto das outras filas.
O professor fez uma pausa na sua leitura e chamou o nome seguinte: - Cranly!
Não obteve resposta.
- Mr. Cranly!
Perpassou um sorriso no rosto de Stephen, ao pensar nos estudos do seu amigo.
- Experimente na Terra dos Leopardos! - disse uma voz no banco de trás.
Stephen ergueu rapidamente o olhar, mas o rosto narigudo de Moynihan, recortado contra a luz cinzenta, mantinha-se impassível. O professor enunciou uma fórmula. Por entre o folhear dos cadernos de apontamentos, Stephen voltou-se novamente para trás e disse:
- Dá-me uma folha de papel, pelo amor de Deus.
- Estás assim tão precisado? - perguntou Moynihan com um amplo sorriso.
Rasgou uma folha da sua sebenta e passou-lha, sussurrando: - Em Caso de necessidade, qualquer leigo, homem ou mulher, pode fazer isso por ti.
A fórmula que anotou obedientemente na folha de papel, o enrolar e desenrolar dos cálculos do professor, os símbolos semelhantes a espectros da força e da velocidade fascinavam e fatigavam a mente de Stephen. Tinha ouvido dizer, um dia, que o velho professor era um franco-mação e um ateu. Que dia tão cinzento e monótono! Parecia um limbo de consciência indolor e paciente através do qual deviam errar as almas dos matemáticos, projectando longos e finos traçados, plano a plano, de um crepúsculo cada vez mais rarefeito e mais pálido, irradiando rápidas rotações até aos últimos limites de um universo cada vez mais vasto, mais longínquo e mais impalpável.