Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 5: V Pág. 204 / 273

E estudar que tipo de beleza é o adequado para cada uma das diversas artes. São alguns pontos interessantes que poderíamos abordar.

Stephen, subitamente desencorajado pelo tom firme e seco do deão, ficou silencioso; e, por entre o silêncio, escutou o ruído distante de grande número de botas e de vozes confusas que vinha da escada.

- Todavia, ao perseguir essas conjecturas - disse o deão de forma conclusiva -, existe o perigo de se morrer de inanição. Primeiramente, terá que obter o seu diploma. Estabeleça isso como o seu primeiro objectivo. Depois, pouco a pouco, encontrará o seu caminho. Em todos os sentidos, o seu caminho na vida e no pensamento. A princípio, poderá ser difícil. Pense em Mr. Moonan. Levou muito tempo a atingir o cume. Mas chegou lá.

- Talvez eu não possua o seu talento - disse Stephen em voz baixa.

- Nunca se sabe - disse o deão animadamente. - Nunca se pode afirmar o que existe dentro de nós. Eu não seria tão pessimista. Per aspera ad astra (Através das dificuldades se alcançam as estrelas).

Abandonou rapidamente a chaminé e dirigiu-se ao patamar, para vigiar a entrada da primeira classe de letras.

Encostando-se à lareira, Stephen ouviu-o saudar viva e imparcialmente cada aluno e quase podia ver os sorrisos francos nos rostos dos estudantes mais grosseiros. Uma piedade desolada começou a cair como orvalho sobre o seu coração tão facilmente amargurado, por aquele fiel servidor do cavalheiresco Loiola, por aquele meio-irmão do clero, mais corruptível do que eles por palavras, de alma mais firme do que a deles, alguém a quem nunca poderia chamar seu pai espiritual; e pensou que aquele homem e os seus companheiros tinham merecido a fama de mundanos, não na boca dos mais espirituais, mas na dos mundanos também, por terem defendido, durante toda a sua história, no tribunal da justiça divina, as almas dos fracos, dos indiferentes e dos prudentes.





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