Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 5: V Pág. 207 / 273

O professor tinha-se dirigido aos armários da parede lateral e tirado de uma prateleira um conjunto de bobinas, soprando-lhes a poeira em diversos sítios e levando-as cuidadosamente para a secretária. Manteve um dedo pousado sobre elas enquanto prosseguia a sua lição. Explicou que os fios das bobinas modernas eram feitos de um composto chamado platinóide, recentemente descoberto por F. W Martino.

Pronunciou claramente as iniciais e o apelido do inventor. Moynihan sussurrou, por trás de Stephen:

- O bom do Faz-Vista Martinho!

- Pergunta-lhe - sussurrou Stephen, já farto - se quer alguém para electrocutar, Posso arranjar-lhe.

Moynihan, vendo o professor inclinar-se sobre as bobinas, ergueu-se e, dando estalos silenciosos com os dedos da mão direita, começou a gritar com uma voz de miúdo chorão:

- Senhor professor! Este menino está a dizer palavrões, senhor professor.

- O platinóide - disse solenemente o professor - é utilizado de preferência à prata alemã, porque tem um mais baixo coeficiente de resistência às mudanças de temperatura, O arame de platinóide é isolado e o revestimento de seda que o isola é enrolado nas bobinas de ebonite, precisamente onde se encontra o meu dedo. Se fosse enrolado sozinho, seria induzida uma corrente suplementar nas bobinas. As bobinas são saturadas com parafina quente...

Uma voz aguda do Ulster disse, da bancada por trás de Stephen: - Seremos interrogados sobre ciência aplicada?

O professor começou a jogar gravemente com os termos ciência pura e ciência aplicada. Um estudante corpulento, de óculos de aros de ouro, fitava com espanto aquele que fizera a pergunta. Moynihan murmurou, atrás de Stephen, com a sua voz natural:

- O MacAlister não é um autêntico demónio em busca da sua libra de carne?

Stephen olhou friamente para o crânio oblongo à sua frente, onde crescia um cabelo emaranhado cor de corda.





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