A voz, a entoação, a mente do rapaz irritavam-no e permitiu que essa irritação o levasse até uma crueldade propositada, deixando a sua mente pensar que o pai do estudante teria feito melhor se tivesse mandado o filho estudar para Belfast, poupando assim o dinheiro do comboio.
O crânio oblongo não se voltou para trás para enfrentar esta flecha do pensamento, mas a flecha regressou à aljava; porque ele vira, por um momento, o rosto do estudante, pálido de medo.
- Este pensamento não é meu - apressou-se a dizer Stephen a si mesmo. - É deste cómico irlandês atrás de mim. Paciência. Poderás dizer com segurança quem vendeu a alma da tua raça e traiu os seus eleitos - o que fez a pergunta ou aquele que escarneceu dele? Paciência. Lembra-te de Epicteto. Provavelmente, faz parte do seu carácter fazer aquela pergunta numa altura destas, naquele tom, e pronunciar a palavra ciência como um monossílabo.
A voz monótona do professar continuava a enrolar-se lentamente em volta das bobinas de que ele falava, duplicando, triplicando, quadruplicando a sua sonolenta energia, à medida que a bobina multiplicava as seus ohms de resistência. A voz de Moynihan bradou atrás de si, ecoando uma sineta distante:
- Está na hora de fechar, cavalheiros!
O vestíbulo da entrada estava apinhado e todos falavam alto.
Numa mesa perta da porta, viam-se duas fotografias emolduradas e, entre elas, um rolo de papel com uma coluna irregular de assinaturas. MacCann andava de um lado para o outro, entre os estudantes, falando rapidamente, respondendo aos remaques e conduzindo um após outro até à mesa. No vestíbulo interior, o deão de estudos conversava com um jovem professor, acariciando gravemente o queixo e acenando afirmativamente com a cabeça.