Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 5: V Pág. 224 / 273

Isto é claro?

- Mas o que é a beleza? - perguntou Lynch com impaciência. - Arranja outra definição. Algo que vemos e de que gostamos! Isso é o melhor que tu e Aquino conseguem arranjar?

- Tomemos a mulher - disse Stephen.

- Tomemo-la! - disse Lynch com entusiasmo.

- Os gregos, os turcos, os chineses, os coptas, os hotentotes - disse Stephen -, todos eles admiram diferentes tipos de beleza feminina. Isso parece criar um labirinto de que não conseguimos sair. Todavia, eu vejo duas saídas. Uma delas é esta hipótese: que toda a qualidade física admirada pelos homens nas mulheres está directamente relacionada com as múltiplas funções da mulher para a propagação da espécie. Pode ser que assim seja. O mundo, ao que parece, é ainda mais lamentável do que tu próprio, Lynch, imaginas. Pela minha parte, desagrada-me essa saída. Conduz mais à eugenia do que à estética. Faz-te sair do labirinto e penetrar numa nova e espalhafatosa sala de conferências, onde MacCann, com uma mão sobre A Origem das Espécies e a outra sobre o Novo Testamento, te afirma que admiraste os grandes flancos da Vénus porque sentiste que ela te poderia dar uma robusta progenitura e admiraste os seus grandes seios porque sentiste que ela produziria bom leite para os vossos filhos.

- Então o MacCann é um mentiroso amarelo de enxofre - disse Lynch, energicamente.

- Resta ourra saída - disse Stephen, rindo-se.

- Ou seja? - disse Lynch.

- Esta hipótese - principiou Stephen,

Uma longa carroça carregada de ferro velho voltou a esquina do hospital de Sir Patrick Dun, afogando o final da dissertação de Stephen no ruído áspero dos metais sacolejantes que em batiam uns nos outros. Lynch tapou os ouvidos e começou a praguejar até a carroça acabar de passar.





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