Lynch tirou o último que restava, dizendo simplesmente:
- Continua!
- Aquino - disse Stephen - diz que é bela a apreensão daquilo que nos causa prazer.
Lynch acenou afirmativamente com a cabeça.
- Lembro-me disso - declarou. - Pulcra sunt quae visa placenta.
- Ele usa a palavra visa - disse Stephen - para designar as apreensões estéticas de todos os géneros, quer através do olhar quer da audição quer através de qualquer outra via de apreensão. Essa palavra, embora seja vaga, é suficientemente clara para separar o bem e o mal que excitam o desejo e a repugnância. Significa, por certo, uma estas e não uma cinese. E a verdade? Produz também uma estase da mente. Tu não escreverias o teu nome a lápis na hipotenusa de um triângulo recto.
- Não - disse Lynch. - Diz-me qual é a hipotenusa da Vénus de Praxíteles.
- Estática, por conseguinte - disse Stephen. - Piarão, segundo penso, disse que a beleza é o esplendor da verdade. Não penso que isso tenha um significado, mas o verdadeiro e o belo têm a mesma natureza. A verdade é contemplada pelo intelecto que as mais satisfatórias relações do inteligível contentam; a beleza é contemplada pela imaginação que as mais satisfatórias relações do sensível contentam. O primeiro passo na direcção da verdade consiste em compreender a natureza e o âmbito do próprio intelecto, entender o próprio acto da intelecção. Todo o sistema filosófico de Aristóteles se baseia no seu livro de psicologia e esse, penso eu, baseia-se na sua declaração de que o mesmo atributo não pode, ao mesmo tempo e na mesma acepção, adaptar-se e não se adaptar ao mesmo objecto. O primeiro passo na direcção da beleza consiste em compreender a natureza e o âmbito da imaginação, entender o próprio acto da apreensão estética.