Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 5: V Pág. 226 / 273

Lynch começou a cantar, suave e solenemente, numa voz de baixo profundo:

Impleta sunt quae concinit
David fideli carmine
Dicendo nationibus
Regnavit a ligno Deus.

(Certas são as coisas que David / Cantou em seus versos fieis / Falando às nações e dizendo / Que Deus reina pela cruz)

- É extraordinário! - disse ele, muito satisfeito. - Grande música!

Voltaram para a Rua Lower Mount. A alguns passos da esquina, um jovem gordo, que usava um cachecol de seda, cumprimentou-os e parou junto deles.

- Já souberam os resultados dos exames? - perguntou. - O Griffin chumbou. O Halpin e o O'Flynn estão livres do serviço civil. O Moonan ficou em quinto no serviço da Índia. O O'Shaughnessy ficou em décimo quarto. Os irlandeses do Clark ofereceram-lhes um jantar na noite passada. Comeram caril.

O seu rosto pálido e inchado exprimiu uma malícia benévola e, à medida que ia relatando a maré de acontecimentos, os seus olhinhos rodeados de gordura iam desaparecendo e a sua voz fraca e asmática ia-se tornando inaudível.

Em resposta à pergunta de Stephen, os olhos e a voz regressaram dos seus esconderijos.

- Sim, MacCullagh e eu -- disse ele. - Ele vai tirar Matemática Pura e eu História Constitucional. Há vinte cadeiras. Vou tirar Botânica também. Como sabem, faço parte do Clube Botânico.

Afastou-se um pouco dos outros dois, com um ar solene, e colocou uma mão roliça e enluvada sobre o peito, do qual começou imediatamente a brotar um riso asmático.

- Traz-nos uns nabos e umas cebolas quando fizeres a próxima excursão - disse Stephen secamente - para fazermos um guisado.

O estudante gordo riu-se num jeito indulgente e disse:

- Somos todos pessoas altamente respeitáveis, no Clube Botânico.





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