Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 5: V Pág. 227 / 273

No sábado passado, fomos a Glenmalure, num grupo de sete.

- Levaram mulheres, Donovan? - inquiriu Lynch. Donovan voltou a pousar a mão no peito e disse:

- A nossa finalidade é a aquisição de conhecimentos. Depois, disse vivamente:

- Ouvi dizer que estás a escrever uns ensaios sobre estética.

Stephen esboçou um vago gesto de negação.

- Goethe e Lessing - disse Donovan - escreveram muito sobre esse assunto, a escola clássica, a escola romântica, e isso tudo. O Laocconte pareceu-me muito interessante, quando o li. Evidentemente, é realista. Alemão, ultraprofundo.

Os outros dois ficaram em silêncio. Donovan despediu-se cortesmente deles.

- Tenho de ir andando - disse com voz suave e benevolente.

- Tenho uma forte suspeita, que quase se transforma em convicção, de que a minha irmã tenciona fazer panquecas, hoje, para o jantar da família Donovan.

- Adeus - disse Stephen já nas costas dele. - Não te esqueças dos nabos para mim e para o meu amigo.

Lynch ficou a vê-lo afastar-se, e os seus lábios foram-se contorcendo num trejeito de desprezo, até o seu rosto se assemelhar a uma máscara diabólica:

- E pensar que aquele excremento amarelo comedor de panquecas pode conseguir um bom emprego - disse finalmente -, enquanto eu tenho de fumar cigarros baratos!

Voltaram na direcção da Praça Merrion e seguiram em silêncio durante algum tempo.

. - Para terminar o que eu estava a dizer em relação à beleza - disse Stephen -, as relações mais satisfatórias do sensível devem, por isso, corresponder às fases necessárias da apreensão artística. Se as descobrires, terás encontrado as qualidades da beleza universal. Aquino diz: «Ad pulcritudinem tria requiruntur integritas, consonantia, claritas». Eu traduzi assim: «São necessárias três coisas para a beleza, inteireza, harmonia e claridade».





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