Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 5: V Pág. 229 / 273

- A conotação da palavra é bastante vaga. Aquino utiliza um termo que parece ser inexacto. Desorientou-me durante algum tempo. Poderia levar-nos a pensar que ele tinha em mente o simbolismo ou o idealismo, sendo a suprema qualidade da beleza uma luz de outro mundo, a ideia da qual a matéria é apenas uma sombra, a realidade da qual ela não passa de um símbolo. Pensei que ele quisesse dizer que claritas é a descoberta artística e a representação do desígnio divino para uma determinada coisa ou uma força de generalização que tornaria universal a imagem estética, fazendo-a ultrapassar em brilho a sua própria condição. Mas isso é conversa literária. Aqui tens como eu entendi as coisas. Depois de termos apreendido aquele cesto como uma coisa e o termos analisado em conformidade com a sua forma e o termos apreendido como uma coisa, fazemos a única síntese que é lógica e esteticamente permissível. Verificamos que ele é aquilo que é e não outra coisa. A claridade de que ele fala é o quidditas escolástico, a característica de uma coisa. Esta qualidade suprema é sentida pelo artista quando a imagem estética é concebida na sua imaginação. Shelley comparou, magnificamente, a mente nesse misterioso instante a uma brasa prestes a apagar-se. O instante em que essa suprema qualidade da beleza, a clara radiação da imagem estética, é luminosamente apreendida pela mente que foi impressionada pela sua inteireza e fascinada pela sua harmonia é a estase luminosa e silenciosa do prazer estético, um estado espiritual muito semelhante àquela condição cardíaca a que o fisiologista italiano Luigi Galvani, usando uma frase quase tão bela quanto a de Shelley, chamou o encantamento do coração.

Stephen fez uma pausa e, embora o seu companheiro não falasse, sentiu que as suas palavras tinham criado em volta de ambos um momento de encantamento espiritual.





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