Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 5: V Pág. 230 / 273

- O que eu disse - recomeçou ele - refere-se à beleza no sentido mais lato da palavra, no sentido que a palavra tem na tradição literária. Na linguagem comum, tem outro sentido. Quando falo de beleza no segundo sentido do termo, o nosso julgamento é influenciado, em primeiro lugar, pela própria arte e pela forma dessa arte. A imagem, é evidente, deverá ser colocada entre a mente ou os sentidos do próprio artista e a mente ou os sentidos dos outros. Se tiveres esse facto em consideração, verificarás que a arte se divide necessariamente em três formas, em progressão. Essas formas são: a forma lírica, a forma em que o artista apresenta a sua imagem em imediata relação consigo próprio; a forma épica, a forma em que ele apresenta essa imagem em relação imediata consigo próprio e com os outros; a forma dramática, a forma em que ele apresenta a sua imagem em relação imediata com os outros.

- Disseste-me isso há algumas noites - disse Lynch - e iniciámos a nossa famosa discussão.

- Tenho um caderno em casa - disse Stephen -, no qual anotei perguntas mais divertidas do que as tuas foram. Ao tentar encontrar respostas para elas, descobri a teoria da estética que estou a tentar explicar-te. Eis algumas das perguntas que fiz a mim mesmo: Uma cadeira excelentemente acabada é trágica ou cómica? O retrato da Mona Lisa é bom porque eu desejo vê-lo? Se não, por que motivo?

- Por que motivo, na verdade? - disse Lynch, rindo-se.

- Se Um homem, retalhando, num acesso de fúria, um pedaço de

Madeira - prosseguiu Stephen - nele talhar a imagem de uma vaca, essa imagem será uma obra de arte? Se não, porque motivo?

- Essa é boa - disse Lynch, rindo-se novamente. - É caracteristicamente escolástica.

- Lessing - disse Stephen - não deveria ter escrito sobre um grupo escultórico.





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