Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 1: I Pág. 23 / 273

Estavam todos à espera: o tio Charles, que se sentava lá ao fundo, na sombra da janela, a Dante e Mr. Casey, sentados nos cadeirões de ambos os lados da lareira, Stephen, sentado numa cadeira entre ambos, com os pés apoiados no varão queimado pelo fogo. Mr. Dedalus mirou-se no espelho por cima da consola da lareira, cofiou as guias do bigode e depois, afastando as abas da sobrecasaca, colocou-se de costas para o fogo resplandecente; de vez em quando, retirava a mão da aba da sobrecasaca para cofiar as guias do bigode. Mr. Casey inclinou a cabeça para o lado e, sorrindo, bateu com os dedos na maçã-de-adão. E Stephen sorriu também porque agora já sabia que não era verdade que Mr. Casey tivesse uma bolsa de prata na garganta. Sorriu ao pensar como o ruído metálico que Mr. Casey costumava fazer o enganara. E, quando tinha tentado abrir a mão de Mr. Casey para ver se a bolsa de prata lá estaria escondida, tinha verificado que os dedos não podiam endireitar-se; e Mr. Casey contara-lhe que tinha ficado com os dedos aleijados ao fazer um presente de aniversário para a rainha Vitória.

Mr. Casey bateu com os dedos na rnaçã-de-adão e sorriu para Stephen com olhos ensonados. Mr. Dedalus disse:

- Pois. Ora bem, está tudo certo. Oh, demos uma bela passeata, não demos, John? Pois... Gostava de saber quando se janta, esta noite. Pois... Ora bem, respirámos bastante ozono, hoje, na nossa volta pelo promontório. Lá isso é verdade.

Voltou-se para Dante e perguntou:

- A senhora nem se mexeu daí, hem, Mrs. Riordan? Dante franziu o sobrolho e respondeu:

- Não.

Mr. Dedalus largou as abas da sobrecasaca e dirigiu-se ao aparador. Trouxe uma grande botija de uísque e encheu lentamente a garrafa de cristal, inclinando-se de vez em quando para ver até onde a enchera.





Os capítulos deste livro