Poderia, então, ler um livro. Havia na biblioteca um livro sobre a Holanda. Tinha uns encantadores nomes estrangeiros e imagens de cidades e navios com aspecto estranho. Fazia-o sentir-se tão feliz.
Como estava pardacenta a luz que vinha da janela! Mas isso era agradável. O reflexo do fogo subia e descia na parede. Lembrava as ondas. Alguém lhe deitou carvão e depois Stephen ouviu vozes. Estavam a conversar. Era o ruído das ondas. Ou as ondas estavam a conversar umas com as outras, enquanto subiam e desciam.
Viu um mar de ondas, longas ondas escuras, a subir e a descer, sombrias na noite sem luar. Uma luz minúscula cintilava no molhe onde o navio estava a entrar; e viu uma multidão junto à água, a ver o navio que entrava no porto. Havia um homem alto, de pé, no convés, olhando a terra escura e plana; e, à luz que vinha do molhe, pôde ver o rosto triste do irmão Michael.
Viu-o erguer a mão em direcção ao povo e ouviu-o dizer, com uma voz forte e triste, por sobre as águas:
- Morreu. Vi-o jazendo no catafalco.
Saiu da multidão um lamento de tristeza.
- Parnell! Parnell! Morreu!
Todos caíram de joelhos, gemendo amargamente.
E ele viu Dante, com um vestido de veludo castanho-averrnelhado e um manto de veludo verde suspenso dos ombros, afastando-se, orgulhosa e silenciosamente, da multidão ajoelhada à beira da água.
Um grande fogo, de chamas altas e rubras, ardia na lareira, e a mesa de Natal estava posta, por baixo do candelabro em cujos braços se enlaçava a hera. Tinham chegado um pouco tarde a casa e, mesmo assim, o jantar ainda não estava pronto; mas não tardava nada que estivesse pronto, dissera a mãe. Todos esperavam que a porta se abrisse e os criados entrassem, trazendo as grandes travessas cobertas com as suas pesadas tampas de metal.