Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 5: V Pág. 241 / 273

Não te enfadam já essas ardentes vias,
Sedutora dos anjos soçobrados?


Não me recordes mais os dias encantados.


Teus olhos incendeiam meu coração humano,
E tu dele fizeste o que querias.


Não te enfadam já essas ardentes vias?

Da chama se ergue o fumo do incenso
Cobrindo terras e mares inconfinados.
Não me recordes mais os dias encantados.

Nossos gritos vencidos e cantos destroçados
Elevam-se em hinos nas eucaristias.


Não te enfadam já essas ardentes vias?

As mãos devotas oferecem sacrifícios

Ao céu erguendo cálices transbordados. Não me recordes mais os dias encantados.

E tu manténs ainda nossos olhares cruzados
Langorosa e ardente como naqueles dias!
Não te enfadam já essas ardentes vias?


Não me recordes mais os dias encantados.

Que aves seriam aquelas? Estava de pé, nos degraus da biblioteca, a olhar para elas, apoiando-se, fatigado, na bengala de freixo. As aves voavam em círculos em redor do beiral saliente de uma casa da Rua Molesworth. O ar da tarde dos finais de Março tornava o seu voo nítido, os seus corpos escuros e palpitantes projectavam-se, num nítido contraste, contra o céu, como se este fosse um pano pendurado, de um azul ténue e esfumado.

Observou o seu voo; ave após ave: um brilho sombrio, uma curva, um bater de asas. Tentou contá-las antes que passassem todos os corpos rápidos e palpitantes: seis, dez, onze; e perguntou a si mesmo se o seu número seria par ou ímpar. Doze, treze: duas desciam das alturas em espiral. Umas voavam alto, outras baixo, mas sempre em círculos, em linhas rectas e curvas e sempre da esquerda para a direita, rodando em volta de um templo aéreo.





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