Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 5: V Pág. 242 / 273

Escutou os seus gritos: como o guincho de um rato por trás do lambrim: uma dupla nota aguda. Mas as notas eram longas e agudas e vibrantes, diferentes das dos ratos, descendo uma terça ou uma quarta, e trinando quando os bicos cortavam o ar. O grito das aves era agudo e nítido e fino e descendente, como fios de luz sedosa desenrolados de vibrantes bobinas.

O clamor animal acalmava-lhe os ouvidos, nos quais ressoavam insistentemente os soluços e reprimendas da sua mãe, e os corpos escuros, frágeis e palpitantes, rodando, batendo as asas e curvando-se em volta do templo aéreo do céu ténue acalmavam-lhe os olhos que ainda retinham a imagem do rosto da sua mãe.

Porque estaria ali, a olhar para o céu, nos degraus do pórtico, escutando os seus gritos duplos e agudos, observando o seu voo? Estaria à espera de um bom ou de um mau presságio? Veio-lhe à mente uma frase de Camélia Agripa, seguida, aqui e além, por esfarrapados pensamentos de Swedenborg acerca da correspondência entre as aves e as coisas do intelecto e da forma por que os animais alados possuem o seu próprio entendimento e conhecem o tempo e as estações, porque eles, ao contrário do homem, sabem que elas estão de acordo com a sua própria vida e não perverteram a sua ordem através da razão.

Desde tempos remotos, os homens tinham olhado para o céu, como ele estava a olhar, observando o voo das aves. A colunata por cima dele fê-lo pensar vagamente num templo antigo, e a bengala em que se apoiava fatigadamente lembrou-lhe o bastão curvo de um áugure. Uma sensação de medo do desconhecido agitou-se no cerne da sua fadiga, um medo dos símbolos e dos presságios, do homem-falcão cujo nome usava, evadindo-se, a voar, do seu cativeiro, com as suas asas entretecidas com vime, de Toth, o deus dos escritores, escrevendo com um estilete de cana sobre uma tabuinha, tendo sobre a cabeça esguia de íbis um crescente lunar.





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