Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 1: I Pág. 31 / 273

Talvezisso a voltasse contra Parnell. E ela não gostava que ele brincasse com a Eileen, porque a Eileen era protestante e, quando era nova, ela tinha conhecido crianças que brincavam com protestantes, e os protestantes troçavam da ladainha da Virgem Santa. Torre de Marfim, diziam elas, Casa Dourada! Como podia uma mulher ser uma torre de marfim ou uma casa dourada? Quem teria razão? E Stephen recordou-se da tarde passada na enfermaria de Clongowes, das águas escuras, da luz no molhe e do gemido de desgosto da multidão quando soubera.

A Eileen tinha umas mãos longas e brancas. Certa vez, quando brincavam a agarrar, ela tinha-lhe tapado os olhos com as mãos: longas, brancas e finas, frescas e macias. Era assim o marfim: uma coisa branca e fria. Era esse o significado de Torre de Marfim.

- A história é muito curta e divertida - disse Mr. Casey. Passou-se certa vez em Arklow, num dia muito frio, pouco antes de o chefe ter morrido. Que Deus o tenha em Sua glória!

os olhos tristemente e fez uma pausa. Mr. Dedalus pegou num osso do prato e arrancou a carne com os dentes, dizendo:

- Antes de o matarem, quer o John dizer.

Mr. Casey abriu os olhos, suspirou e prosseguiu:

- Passou-se, um dia, em Arklow. Tínhamos ido até lá para uma reunião e, depois da reunião ter acabado, tivemos que abrir caminho por entre a multidão até à estação de caminho-de-ferro. Fomos apupados e vaiados de uma forma que nem imagina. Chamaram-nos todos os nomes possíveis. Bom, havia lá uma velha, uma megera bêbeda que nem um cacho, que engraçou comigo. Não parava de dançar à minha frente, no meio da lama, a vociferar e a berrar na minha cara: «Perseguidor de padres! Os fundos de Paris! Mr. Fax! Kitty O'Shea!».

- E o senhor o que fez, John? - inquiriu Mr.





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