Dedalus.
- Deixei-a vociferar - disse Mr. Casey. - Estava um dia frio e, para ganhar coragem, eu estava (a senhora que me perdoe) a mascar uma libra de Tullamore e não conseguia dizer uma palavra, de qualquer forma, porque tinha a boca cheia de suco de tabaco.
- E então, John?
- Bom, deixei-a berrar tanto quanto lhe apeteceu, Kitty O'Shea e tudo o resto, até que, finalmente, ela chamou àquela senhora um nome que não vou pronunciar, para não conspurcar esta mesa de Natal nem os seus ouvidos, minha senhora, nem os meus próprios lábios, ao repeti-lo.
Fez uma pausa. Mr. Dedalus, afastando os olhos do osso, perguntou:
- Que fez então, John?
- O que é que eu fiz! - exclamou Mr. Casey. - Ela tinha quase colado aquela sua cara horrorosa à minha, ao dizer aquilo, e eu tinha a boca cheia de suco de tabaco. Inclino-me para ela e digo-lhe só «Pft».
Voltou-se para o lado e fingiu cuspir.
- «Pft», disse-lhe eu, em cheio num olho.
Levou a mão a um olho e soltou um grito rouco de dor.
- «Oh, Jesus, Maria, José!», disse ela. «Estou cega! Estou cega e afogada!»
Mr. Casey deteve-se, num acesso de tosse e de riso, repetindo:
- «Estou completamente cega.»
Mr. Dedalus soltou uma gargalhada vibrante, recostando-se na cadeira, enquanto o tio Charles meneava a cabeça para um lado e para o outro.
Dante tinha um ar terrivelmente furioso e não parava de repetir, enquanto eles se riam:
- Muito bonito! Ah! Muito bonito!
Não era muito bonito ter cuspido no olho da mulher.
Mas qual seria o nome que a mulher tinha chamado a Kitry O'Shea e que Mr. Casey não podia repetir? Recordava-se de ver Mr. Casey a passar por entre as multidões e a fazer discursos de uma vagoneta. Tinha sido por isso que ele tinha sido preso, e recordava-se de que, uma noite, o sargento O'Neill tinha ido lá a casa e ficado no vestíbulo, falando em voz baixa com o seu pai e mastigando nervosamente a correia do capacete.
