Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 1: I Pág. 45 / 273

- Claro que não! - disse o prefeito dos estudos. - Claro que não! Um preguiçoso nato! Vê-se na cara dele.

Bateu com a palmatória na carteira e bradou:

- De pé, Fleming! De pé, meu rapaz! F1eming ergueu-se lentamente.

- Estende a mão! - gritou o prefeito dos estudos.

Fleming estendeu a mão. A palmatória desceu com um som duro e forte: uma, duas, três, quatro, cinco, seis vezes.

- A outra mão!

A palmatória estalou de novo mais seis rápidas vezes.

- De joelhos! - berrou o prefeito dos-estudos.

Fleming ajoelhou-se, apertando as mãos por baixo das axilas, com o rosto contorcido pela dor; Stephen sabia como as suas mãos eram duras, porque F1eming estava sempre a esfregá-las com resina. Mas talvez sentisse grandes dores, porque o som da palmatória era terrível. O coração de Stephen batia, apertado.

- Todos a trabalhar, vamos! - bradou o prefeito dos estudos.

- Não queremos vadios ociosos por aqui, nem patifes preguiçosos. Ao trabalho, digo-lhes eu. O padre Dolan virá vê-los todos os dias. O padre Dolan vai voltar amanhã.

Tocou com a palmatória no flanco de um dos rapazes, dizendo:

- O senhor, aí! Quando é que o padre Dolan volta?

- Amanhã, senhor - disse a voz de Tom Furlong.

- Amanhã e no dia seguinte e no dia seguinte - disse o prefeito dos estudos. - Metam isso na vossa cabeça. Todos os dias vem o padre Dolan. Escrevam isso. O senhor aí, como se chama?

O coração de Stephen deu um salto súbito.

- Dedalus, senhor.

- Porque não está a escrever como os outros?

- Eu... os meus...

Não conseguia falar, tal era o seu medo.

- Porque é que ele não está a escrever, padre Arnall?

- Partiu os óculos - disse o padre Arnall-, e eu dispensei-o.

- Partiu-os? Que é que eu estou a ouvir? Como disse que se chamava? - perguntou o prefeito dos estudos.





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