Um velho criado varria o extremo do patamar. Perguntou-lhe onde ficava a sala do reitor e o velho apontou-lhe uma porta ao fundo. O velho seguiu-o com o olhar até ele lá chegar e bater à porta.
Não obteve resposta.
Bateu de novo, com mais força, e o seu coração deu um salto ao ouvir uma voz abafada:
- Entre!
Fez girar a maçaneta e abriu a porta e começou a procurar a maçaneta da porta interior forrada de verde. Encontrou-a, abriu-a e entrou.
Viu o reitor sentado a uma secretária, a escrever. Havia um crânio humano em cima da secretária e a sala estava cheia de um estranho odor, semelhante ao de velhas poltronas de cabedal.
O seu coração batia violentamente por causa da solenidade e da deferência do lugar: e olhou para o crânio e para o rosto bondoso do reitor.
Então, meu homenzinho - disse o reitor -, o que temos?
Stephen engoliu em seco e disse:
- Parti os meus óculos, senhor reitor.
O reitor abriu a boca e fez:
- Oh!
Depois sorriu e disse:
- Bom, quando partimos os óculos, temos de escrever para casa para pedir um novo par.
- Eu já escrevi, senhor reitor - disse Stephen -, e o padre Arnall disse que eu podia não estudar até eles chegarem.
- Muito bem! - disse o reitor.
Stephen voltou a engolir em seco e tentou dominar o tremor das pernas e da voz.
- Mas, senhor reitor...
-O que foi?
- O padre Dolan foi hoje à aula e deu-me palmatoadas por eu não estar a fazer o exercício.
O reitor fitou-o em silêncio e ele sentiu o sangue afluir-lhe ao rosto e as lágrimas prestes a saltarem-lhe dos olhos.
O reitor disse:
- O seu nome é Dedalus, não é?
- Sim, senhor reitor...
- E onde partiu os seus óculos?
- Na pista de escória, senhor reitor. Vinha um rapaz a sair da casa das bicicletas e eu caí e eles partiram-se.