Falou também de certas mudanças que nela tinham notado ultimamente e das suas maneiras e ditos excêntricos. Ele continuava sentado, a escutar as palavras e a seguir os caminhos aventurosos que se abriam entre as brasas, arcos e abóbadas e galerias serpenteantes e cavernas escarpadas.
Subitamente, tomou consciência de que havia alguém junto da porta. Viu aparecer um crânio, suspenso na obscuridade do umbral. Encontrava-se ali uma criatura frágil como um macaco, atraída pelo som das vozes e pela lareira. Uma voz lamentosa inquiriu da porta:
- É a Josephine?
A velho ta atarefada respondeu alegremente de junto da lareira:
- Não, Ellen, é o Stephen.
- Oh... Oh, boa noite, Stephen.
Ele respondeu à saudação e viu um sorriso tolo assomar ao rosto junto do umbral.
- Quer alguma coisa, Ellen? - perguntou a velha junto da lareira.
Mas ela não respondeu à pergunta e disse:
- Pensei que era a Josephine. Julguei que o Stephen fosse a Josephine.
E, repetindo a frase diversas vezes, soltou uma débil risada. Estava sentado no meio de um grupo de crianças, durante uma festa, em Harold's Cross. Descera sobre ele a sua disposição silenciosa e vigilante e mal participava dos jogos. As crianças, comendo o resto dos biscoitos, dançavam e corriam ruidosamente e, embora ele se esforçasse por partilhar do seu divertimento, sentia que fazia uma triste figura no meio dos alegres chapéus bicudos e de abas largas.
Mas, depois de ter cantado a sua canção e se ter refugiado num canto acolhedor da sala, começou a saborear o prazer da sua solidão. A animação que, no início da tarde, lhe parecera falsa e trivial, transformou-se numa aragem acalentadora, passando alegremente pelos seus sentidos, escondendo de outros olhos a febril agitação do seu sangue quando, através do círculo dos dançarinos e por entre a música e o riso, o olhar dela se dirigiu ao seu canto, adulando, tentando, explorando, excitando o seu coração.