Agora, como nessa altura, manteve-se imóvel no seu lugar, como um observador tranquilo da cena que se desenrolava diante dele.
- Ela também quer que eu a agarre - pensou. - Por isso veio comigo no tramway. Podia facilmente agarrá-la quando sobe até ao meu degrau; ninguém está a ver-nos. Podia agarrá-la e beijá-la.
Mas não fez qualquer dessas coisas; e, quando já seguia sentado, sozinho, no tramway deserto, rasgou o bilhete em pequenos pedaços e ficou a olhar, sombriamente, para as estrias do estribo.
No dia seguinte, ficou sentado à mesa, no quarto vazio do andar de cima, durante muitas horas. Tinha à sua frente uma caneta nova, um tinteiro novo e um caderno novo cor de esmeralda. Por força de hábito, tinha escrito no cimo da primeira página as iniciais da divisa dos jesuítas: A. M. D. G. Na primeira linha da página encontrava-se o título do poema que estava a tentar escrever:
Para E. C. Sabia que era assim que se começava, porque tinha visto títulos semelhantes na colectânea de poemas de Lorde Byron. Depois de ter escrito este título e traçado uma linha ornamental por debaixo dele, começara a sonhar acordado e a desenhar diagramas na capa do caderno. Viu-se sentado à sua mesa em Bray, na manhã após a discussão à mesa do jantar de Natal, tentando escrever um poema sobre Parnell nas costas de uma folha de pagamentos do pai. Mas o seu cérebro tinha-se recusado a ocupar-se do tema e, desistindo, tinha coberto a página com os nomes e endereços de alguns dos seus colegas:
Roderick Kickham
John Lawton
Amhony MacSwiney
SimonMoonan
Agora, parecia-lhe que ia falhar de novo, mas, à força de remoer no caso, adquiriu confiança. Durante este processo, retirou de cena todos os elementos que considerava vulgares e insignificantes.