Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 2: II Pág. 69 / 273

Não ficaram sequer vestígios do tramway, nem dos homens que o conduziam, nem dos cavalos; nem ele e ela apareciam nitidamente. Os versos falavam apenas da noite e da brisa suave e da luz virginal da Lua. Havia uma tristeza indefinida oculta nos corações dos protagonistas que se encontravam, em silêncio, sob as árvores despidas de folhas e, quando chegara o momento da despedida, o beijo, que tinha sido retido por um deles, foi trocado entre ambos. Depois disso, escreveu as letras L. D. S. no fundo da página e, tendo escondido o caderno, foi até ao quarto da mãe e ficou a observar o seu rosto, durante longo tempo, no espelho do toucador.

Mas este longo período de ociosidade e de liberdade estava a chegar ao fim. Certa noite, o pai chegou a casa cheio de novidades que mantiveram a sua língua em actividade durante todo o jantar. Stephen tinha estado à espera da chegada do pai, porque, nesse dia, havia guisado de carneiro e ele sabia que o pai o faria molhar o pão no molho. Mas nem saboreou o carneiro, porque a referência a Clongowes lhe tinha provocado uma sensação de repugnância.

- Dei mesmo de caras com ele - disse Mr. Dedalus, pela quarta vez -, mesmo à esquina da rua.

- Então, suponho que ele - disse Mrs. Dedalus - conseguirá tratar de tudo. Refiro-me a Belvedere.

- Claro que consegue - disse Mr. Dedalus. - Não te disse já que é ele agora o provincial da ordem?

- Nunca me agradou a ideia de o mandar para os frades cristãos - disse Mrs. Dedalus.

- Os frades cristãos que vão para o Inferno! - disse Mr. Dedalus. - Mandá-lo para o Paddy Malcheiroso e para o Mickey Porcalhão? Não, ele que fique junto dos jesuítas, pelo amor de Deus, já que começou com eles. Ser-lhe-ao úteis mais tarde. São eles que podem arranjar-lhe uma boa posição.





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