Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 1: I Pág. 7 / 273

Mas não podia haver rosas verdes. Talvez algures, no vasto mundo, as houvesse.

A si neta tocou e os rapazes começaram a sair das salas de aula para os corredores, dirigindo-se ao refeitório. Ficou sentado, a olhar para os dois pedaços de manteiga no seu prato, mas não conseguiu comer o pão húmido. A toalha estava húmida e mole. Mas bebeu o chá fraco e quente que o servente desajeitado, com um avental branco atado à cintura, lhe deitou na chávena. Gostaria de saber se o avental do servente também estaria húmido ou se todas as coisas brancas eram frias e húmidas. O Roche Repugnante e o Saurin bebiam cacau que as famílias lhes enviavam em latas. Diziam que não conseguiam beber o chá; que era lavagem dos porcos. Os pais deles eram magistrados, diziam eles.

Todos os rapazes lhe pareciam muito estranhos. Todos tinham pais e mães e roupas e vozes diferentes.

Sentia-se ansioso por chegar a casa e pousar a cabeça no regaço da mãe. Mas ainda não podia; por isso, limitou-se a desejar que o recreio, o estudo e as orações terminassem, para poder ir para a cama.

Bebeu outra chávena de chá quente e o Fleming disse:

- O que foi? Dói-te alguma coisa ou que é?

- Não sei - disse Stephen,

- Deve ser da pança - disse Fleming -, porque estás muito branco. Isso já passa.

- Claro - disse Stephen.

Mas a sua doença era outra. Pensou que devia estar doente do coração, se tal fosse possível. O Fleming tinha sido muito simpático em perguntar-lhe. Sentiu vontade de chorar. Pousou os cotovelos na mesa e pôs-se a tapar e a destapar os ouvidos. Ouvia o rumor do refeitório de cada vez que destapava os ouvidos. Era um ruído como o de um comboio na noite. Depois, tapava os ouvidos e o ruído desaparecia, como se o comboio entrasse num túnel.





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