Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 2: II Pág. 80 / 273

Heron deu o sinal e todos três soltaram uma gargalhada de troça.

- De que estão a rir? - perguntou Stephen.

- De ti - disse Heron. - Byron, o maior poeta! É apenas um poeta para as pessoas pouco cultas.

- Deve ser um grande poeta! - disse Boland.

- Farias melhor se calasses essa boca - disse Stephen, voltando-se vivamente para ele. - Tudo o que sabes de poesia é aquilo que escreveste nas lajes do pátio, quando estiveste quase a ir de castigo para o sótão.

Dizia-se, de facto, que Boland tinha escrito nas lajes do pátio um dístico acerca de um colega seu que costumava ir para casa de pónei:

Quando Tyson seguia a caminho de Jerusalém,
Caiu, e deu cabo do seu etecetra e tal.

Este bote reduziu os dois lugares-tenentes ao silêncio, mas Heron prosseguiu:

- De qualquer forma, Byron foi um herege e um imoral.

- Não me interessa o que ele foi - exclamou Stephen, com veemência.

- Não te interessa se ele foi herege ou não? -- disse Nash.

- Que sabes tu disso? - gritou Stephen. - Nunca leste uma linha seja do que for na tua vida, excepto em resumos, e o Boland idem.

- Eu sei que Byron foi um homem mau - declarou Boland.

- Venham, toca a agarrar este herege - gritou Heron.

Stephen viu-se prisioneiro, em poucos segundos.

- O Tate obrigou-te a recuar, no outro dia - prosseguiu Heron -, em relação à heresia do teu ensaio.

- Amanhã conto-lhe - disse Boland.

- Ai contas? - disse Stephen. - Vais ter medo de abrir a boca.

- Medo?

- Sim. Um medo dos diabos.

- Tem cuidado! - gritou Heron, golpeando as pernas de Stephen com a bengala.

Foi o sinal para todos começarem. Nash prendeu-lhe os braços por detrás, enquanto Boland empunhava um grande pé de couve que encontrara caído na valeta.





Os capítulos deste livro