Se queres tirar umas boas fumaças, experimenta um destes charutos. Foram-me oferecidos por um comandante americano, na noite passada, em Queenstown».
Stephen ouviu a voz do pai quebrar-se numa gargalhada que era quase um soluço.
- Era o homem mais bonito de Cork, naquela altura, juro-te por Deus! As mulheres voltavam-se, na rua, para olhar para ele.
Stephen ouviu o soluço descer ruidosamente pela garganta do pai e abriu os olhos, num impulso nervoso. A luz do Sol, penetrando subitamente nos seus olhos, transformou o céu e as nuvens num mundo fantástico de massas sombrias com espaços de luz cor-de-rosa-escuro, semelhantes a lagos. Sentia o cérebro doente e incapacitado. Mal conseguia interpretar as letras dos letreiros das lojas. A forma monstruosa por que vivia interiormente parecia levá-lo a ultrapassar os limites da realidade. Nada o impressionava ou lhe falava do mundo real, a menos que o escutasse num eco dos gritos furiosos que cresciam dentro de si. Não conseguia corresponder a qualquer apelo do mundo ou dos seres humanos, surdo e insensível ao chamamento do Verão e da alegria, e da camaradagem, fatigado e deprimido pela voz do pai. Mal conseguia reconhecer os pensamentos como seus, e repetiu lentamente para si próprio:
- Eu sou Stephen Dedalus. Estou a caminhar ao lado do meu pai, cujo nome é Simon Dedalus. Esrarnos em Cork, na Irlanda. Cork é uma cidade. Estamos alojados no Hotel Victoria. Victoria e Stephen e Simon. Simon e Stephen e Victoria. Nomes.
A recordação da sua infância tornou-se, subitamente, confusa.
Tentou evocar alguns dos seus momentos mais importantes, mas não o conseguiu. Recordava apenas nomes. Dance, Parnell, Clane, Clongowes. Um rapazinho tinha aprendido geografia com uma senhora idosa que tinha duas escovas no seu toucador.