Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 2: II Pág. 94 / 273

Uma humilhação sucedera-se a outra: os sorrisos falsos dos vendedores do mercado, as vénias e as olhadelas das empregadas dos bares que o pai namoriscara, os cumprimentos e palavras de encorajamento dos amigos do pai. Eles tinham-lhe dito que ele se parecia muito com o avô e Mr. Dedalus tinha concordado em que ele era Igualmente feio. Eles tinham descoberto vestígios da pronúncia de Cork na sua fala e tinham-no feito confessar que o Lee era um rio muito mais bonito do que o Liffey. Um deles, para pôr à prova o seu latim, tinha-o obrigado a traduzir curtas passagens de Dilectus, e unha-lhe perguntado se era correcto dizer: Tempora mutantur nos et mutamur in illis ou Tempora mutantur et nos mutamur in illis (Os tempos mudam e nós mudamos com eles). Um outro, um velhote muito vivo, a quem Mr. Dedalus chamava Johnny Cashman, tinha-o envergonhado, perguntando-lhe quais eram mais bonitas, as raparigas de Dublim ou as de Cork.

- Ele não é desses - disse Mr. Dedalus. - Deixem-no em paz. E um rapaz de pensamentos elevados que não perde tempo a pensar nesses disparates.

- Então, não sai ao pai - disse o pequeno velhote.

- Isso não sei - disse Mr. Dedalus, com um sorriso complacente.

- O teu pai - disse o velhote pequeno a Stephen - era o mais atrevido dos conquistadores da cidade de Cork, no seu tempo. Sabias disso?

Stephen baixou os olhos e pôs-se a observar os mosaicos do chão do bar em que tinham entrado.

- Não esteja a meter-lhe essas coisas na cabeça - disse Mr. Dedalus. - Deixa-o em paz com o seu Criador.

- É claro que não lhe meto ideias na cabeça. Tenho idade suficiente para ser avô dele. E já sou avô - disse o velhote pequeno a Stephen. - Sabias?

- Ai é? - perguntou Stephen,

- Palavra que sou - disse o velhote pequeno.





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