O que me provocava enorme constrangimento, quando a minha ama me levava de visita a estas aias, era que a minha presença não as perturbava em nada: tratavam-me como se eu não existisse. Com efeito, desnudavam-se totalmente e, na minha presença, vestiam a camisa, enquanto eu estava sobre o toucador diante do corpo nu. Este espectáculo digo-o sem hesitação não me era em nada tentador: provocava-me apenas uma sensação de desagrado e de horror. A pele delas parecia-me extremamente grosseira e desigual, e de uma tonalidade tão diversificada quando a contemplava de perto, com manchas isoladas da largura de pratos, coroadas de pêlos grossos como cordéis, para não me referir ao resto da anatomia. Tão-pouco sentiam algum rebuço em verter, na minha presença, as águas muito antes bebidas, deitando o correspondente a duas barricas, pelo menos, num recipiente com mais de três toneladas de capacidade. A mais bela destas aias, uma jovem de dezasseis anos agradável e folgazã, punha-me às vezes a cavalo dos seus mamilos, para além de outras brincadeiras sobre as quais o leitor me desculpará que não me alongue em demasia. Mas era uma experiência tão constrangedora que supliquei a Glumdalditch que arranjasse algum pretexto para evitar pôr-me em contacto com esta adolescente.
Um dia fomos visitados pelo jovem sobrinho da professora da minha pequena ama, que convidou as duas com insistência para assistirem a uma execução. O condenado assassinara um dos melhores amigos desse cavalheiro. Glumdalditch aceitou o convite muito a contragosto, já que possuía um coração sensível. Quanto a mim, ainda que considerasse odiosos tais espectáculos, senti-me impelido pela curiosidade de presenciar algo que julgava ser extraordinário.