As Viagens de Gulliver - Cap. 4: Capítulo II Pág. 154 / 339

Da sua exposição, o autor retirava algumas explicações morais úteis para a vida, que não vejo agora necessidade de repetir. Quanto a mim, não pude deixar de pensar como está universalmente espalhado o talento de se redigirem discursos sobre a moral ou, sobretudo, sobre as queixas e o descontentamento, produto das lutas com a natureza. Creio que, se se fizesse um exame pormenorizado, se demonstraria que essas lutas têm menos sentido entre nós que para aquela gente.

No que se refere aos assuntos militares daquele país, jactam-se de que o Exército do rei é formado por cento e setenta e seis mil soldados de infantaria e trinta e dois mil de cavalaria, se é que a isto se pode chamar exército, pois é composto por comerciantes e camponeses. Os chefes pertencem somente à nobreza e à alta burguesia e não recebem soldo nem recompensa. Forçoso é reconhecer que estão muito bem treinados e disciplinados, coisa que não considero de grande mérito. Poderia ser de outro modo se cada camponês estava às ordens do seu próprio amo e cada cidadão às ordens dos dirigentes da sua própria cidade, eleitos por votação, semelhante ao que era feito em Veneza?

Com frequência via sair a milícia de Lorbrulgrud para manobras, para um grande campo de exercícios com cerca de vinte milhas quadradas, próximo da cidade. Não eram mais de vinte e cinco mil soldados de infantaria e mil de cavalaria, ainda que me seja impossível precisar o número, se se tiver em conta o terreno que ocupavam. Um cavaleiro montava um grande corcel que devia ter uma altura de noventa pés. Vi como todo este corpo de cavalaria, ao ouvir a voz de comando, desembainhava a espada e a brandia no ar.





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