O rei seria o monarca mais absoluto do universo se chegasse a constituir um governo absolutista. Mas os ministros, que têm as suas possessões em terra firme e sabem, por outro lado, que os favoritos gozam de uma posição pouco estável, não consentirão nunca em reduzir o seu país à escravidão.
O rei tem dois meios de submeter à obediência uma cidade que se rebela ou amotina, se entrega a graves desordens ou se nega a pagar os tributos ordinários. O primeiro, e mais suave, consiste em manter a ilha a flutuar sobre a cidade e as sua terras, privando-as das vantagens do Sol e da chuva e infligindo, assim, aos seus habitantes privações e doenças. E se a infracção o exige, são atiradas sobre ela grandes pedras; não há defesa possível contra estas, pelo que apenas resta aos habitantes refugiarem-se em caves e grutas enquanto os telhados das casas saltam em mil pedaços. Se persistem na sua obstinação ou existe ameaça de insurreição geral, o rei utiliza então o último recurso: deixa cair a ilha sobre os recalcitrantes com a consequente destruição de edifícios e moradores. No entanto, raras vezes se chega a tal extremo porque nem o príncipe o permite sem relutância, nem os ministros lhe aconselham tal medida, que os tornaria odiosos aos olhos do povo e provocaria sérios danos às suas propriedades, que se encontram em terra firme, uma vez que a ilha é património régio.
Mas existe também um motivo mais poderoso para que os reis deste país sintam aversão em adoptar tão terrível medida, salvo em casos de extrema necessidade. Com efeito, se a zona condenada à destruição possui promontórios rochosos, como geralmente sucede nas cidades importantes que são edificadas em lugares adequados para sua própria protecção, ou tem muitos campanários ou obeliscos, uma súbita descida poderia danificar o fundo ou superfície inferior da ilha.