As Viagens de Gulliver - Cap. 5: Capítulo III Pág. 192 / 339

Ainda que esta consista, como já disse, num bloco de diamante de duzentas jardas de espessura, poderia fender com um impacto excessivamente violento, ou queimar-se pela aproximação excessiva das fontes de fogo das casas em terra firme, como acontece com os fogões e lareiras dos nossos lares. As pessoas estão conscientes de tudo isto e sabem até que ponto devem chegar na sua obstinação em assuntos que afectem as suas liberdades ou propriedades. E quando a provocação é demasiada e o rei decreta a destruição de uma cidade, ele próprio ordena que a ilha desça com grande suavidade, a pretexto de mostrar-se clemente com o povo, se bem que, na realidade, tenha medo de quebrar o fundo de diamante, pois todos os filósofos são de opinião que, neste caso, o íman não a poderia manter no ar e que toda a massa embateria dramaticamente no solo.

Cerca de três anos antes da minha chegada, na altura de uma viagem oficial do rei pelos seus domínios, deu-se um acontecimento extraordinário que teria podido liquidar esta monarquia, pelo menos tal como está actualmente constituída. Lindalino, a segunda cidade do reino, foi a primeira etapa da viagem. Três dias depois da saída do rei, os habitantes, que se tinham queixado amiúde dos impostos elevados, fecharam as portas da cidade, aprisionaram o governador e, com inacreditável rapidez e esforço, ergueram quatro grandes torres, uma em cada extremo do preciso quadrado que formava a cidade, tão elevadas como o aguçado promontório rochoso que se erguia no próprio centro da cidade. Sobre cada torre e sobre o promontório colocaram uma enorme pedra magnética e, para o caso de o plano falhar, armazenaram uma grande quantidade de matérias altamente inflamáveis com a esperança de incendiar o fundo diamantino da ilha flutuante, desde que os ímans se tornassem ineficazes.





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