As Viagens de Gulliver - Cap. 5: Capítulo III Pág. 223 / 339

CAPÍTULO VIII

Mais pormenores sobre Glubbdubdrib. Rectificações à história antiga e moderna.

Desejando ver as figuras da Antiguidade mais famosas pelo seu talento e saber, decidi consagrar um dia para o cumprimento deste propósito. Pedi que Homero e Aristóteles aparecessem à cabeça de todos os seus comentaristas, e estes últimos eram tão numerosos que algumas centenas tiveram de aguardar no pátio ou nas antecâmaras do palácio. Ao primeiro golpe de vista reconheci e distingui aquelas duas personalidades não só de entre a multidão como também um do outro. Homero era o mais alto e elegante, caminhando muito direito para um homem da sua idade; e possuía os olhos mais penetrantes e vivos que jamais vira. Aristóteles tinha os ombros descaídos e utilizava bengala. O rosto era marcado e emagrecido, o cabelo sem vida e ralo, a voz cavernosa. Depressa descobri que os dois eram totalmente desconhecidos para os seus comentaristas e que nunca se tinham encontrado ou falado. E um fantasma, cujo nome calo, sussurrou-me ao ouvido que eles, com efeito, permaneciam sempre o mais afastado possível dos mestres que glosavam, por um sentimento de vergonha ou de culpabilidade, já que tinham desfigurado a mensagem destes autores de modo tão horrível para a posteridade. Apresentei Dídimo e Eustáquio a Homero e consegui que os tratasse com maior amabilidade do que teriam merecido, mas depressa verifiquei que careciam de talento suficiente para captar a inspiração de um poeta. Aristóteles, pelo contrário, quando o apresentei a Escoto e a Ramus, e lhe fiz referência aos seus tratados, ficou fora de si e perguntou-lhes se os demais membros da sua tribo eram tão idiotas.





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