Supliquei ao governador que convocasse Descartes e Gassendi e convenci-os a explicarem os seus sistemas a Aristóteles. O grande filósofo reconheceu abertamente os próprios erros na filosofia natural, uma vez que procedera, como todos, com base em hipóteses, e considerou ultrapassados quer Gassendi, que tornara o mais possível acessível a doutrina de Epicuro, quer Descartes com os seus vórtices. Predisse que a atracção, defendida tão acaloradamente pelos actuais eruditos, conheceria igual morte. Afirmou que os novos sistemas filosóficos são apenas modas efémeras que mudam a cada geração. Mesmo os que aparentemente se fundamentam em princípios matemáticos só florescem por breve tempo, mas depois perdem vigência.
Dediquei cinco dias a conversar com muitos outros eruditos da Antiguidade. Vi a maioria dos primeiros imperadores romanos. Convenci o governador a chamar os cozinheiros de Heliogábalo para que nos preparassem um banquete mas, por carência de matéria-prima, não puderam fazer jus à sua fama. Um hilota de Agesila preparou-nos um prato de caldo espartano, mas não consegui passar da primeira colherada.
Consagrei os últimos três dias da nossa estadia na ilha os meus dois acompanhantes deviam regressar por motivos pessoais a falar com os mortos da época moderna, com aqueles que, no decurso dos três últimos séculos, tinham desempenhado um importante papel em Inglaterra ou noutros países europeus. Como sou um profundo admirador das famílias avoengas, pedi ao governador que evocasse duas dúzias de reis, bem como oito ou nove gerações seguintes dessas mesmas famílias devidamente ordenadas. Mas sofri uma profunda e inesperada decepção. Em vez de uma extensa fila de diademas régios encontrei, numa dinastia, dois violinistas, três peralvilhos cortesãos e um prelado italiano.
