Confirmou-me que tais nascimentos não são característica de determinadas famílias, mas resultado do acaso; os filhos dos próprios struldbruggs eram tão mortais como o resto da nação.
Confesso abertamente que ao escutar tal relato senti-me possuído por uma alegria inexplicável. A pessoa que me informou entendia o idioma de Balnibarbi, que eu tão bem dominava, pelo que não pude deixar de proferir algumas exclamações talvez um pouco exageradas. Exclamei, pois, num impulso de entusiasmo: «Feliz a nação em que toda a criança nasce, pelo menos, com a possibilidade de ser imortal! Feliz o povo que desfruta de tantos exemplos vivos das antigas virtudes, que encontra sábios mestres capazes de ensinar a sabedoria de todos os tempos pretéritos! Mas para além de tudo o que se possa imaginar estão os excelentes struldbruggs, que nasceram isentos dessa universal calamidade da natureza humana e têm o espírito livre e desembaraçado, sem a opressão e depressão espiritual originadas pelo contínuo terror da morte!» Exprimi a minha surpresa por não ter observado nenhum destes ilustres personagens na corte: a mancha negra na fronte seria tão evidente que eu não poderia ter deixado de reconhecê-la com facilidade. E era difícil de compreender que Sua Majestade, um príncipe tão judicioso, não se tivesse rodeado de um bom número de tais ponderados e competentes conselheiros. Talvez que a virtude destes veneráveis sábios fosse demasiado austera para os costumes corruptos e libertinos da corte. Todos sabemos por experiência que os jovens são demasiado obstinados e inconstantes para se deixarem guiar pelos bons conselhos dos mais velhos.
