Conhecia muita gente na Holanda e fui capaz de inventar nomes para os meus pais, que disse serem gente humilde da província de Guelderland. Estava preparado para dar ao comandante (um tal Theodorus Vangrult) o que me pedia para pagar a passagem para a Holanda; mas, ao saber que era médico, contentou-se com metade da tarifa normal, sob a condição de prestar os meus serviços. Antes de zarpar, alguns tripulantes perguntavam-me com frequência se executara a formalidade já mencionada. Iludia a pergunta dando respostas de carácter geral, dizendo que me submetera às exigências do imperador e da corte em todos os pontos. No entanto, um contramestre astuto e pérfido abordou um funcionário japonês e, apontando-me com um dedo, disse-lhe que eu
não havia ainda pisado o crucifixo. Mas este, que recebera instruções para me deixar passar, castigou o velhaco com vinte chibatadas nas costas com uma cana de bambu. Após este incidente, mais ninguém me importunou com perguntas indiscretas.
Nada digno de menção se passou durante a travessia. Navegámos com vento favorável até ao Cabo da Boa Esperança, onde nos abastecemos de água potável. A 16 de Abril chegámos a Amsterdão sem novidade; tínhamos apenas perdido quatro homens: três morreram de doença e o quarto caiu do mastro da mezena ao mar, não longe da costa da Guiné. Quando chegámos a Amsterdão, depressa encontrei um pequeno navio que me levou para Inglaterra.
Em 10 de Abril de 1710 passámos as Downs. Desembarquei no dia seguinte: via, de novo, o meu país, exactamente depois de uma ausência de cinco anos e seis meses. Dirigi-me directamente para Redcriff, onde cheguei no mesmo dia às duas da tarde: a minha mulher e os meus filhos estavam de boa saúde.
FIM DA TERCEIRA PARTE